A responsável liberdade

Danuza Neiva
4 min readMay 25, 2020

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Existe um caos que só pode ser resolvido por nós mesmo, é aquele causado pela desordem da nossa mente, aquele território desconhecido que nos domina e cria um mundo imaginário. Quanto mais sentimos empatia por nós, conseguiremos nos escutar e nos conectar com o outro.

Ilustração do Undraw
Ilustração: Undraw

Jordan Peterson diz que 50% do caos que experimentamos vem da nossa mente, os outros 50% são externos. Como podemos enfrentar o nosso caos interno? Marshall Rosenberg, em seu livro Comunicação não-violenta, traz orientações para substituir velhos padrões de defesa, recuo ou ataque diante de julgamentos e críticas, bem como intenções e relacionamentos. Um dos pilares base para melhorar a comunicação é assumir as responsabilidades pelos seus atos. Podemos substituir uma linguagem que implique falta de escolha por outra que reconheça a possibilidade de escolha .

Os quatro componentes da Comunicação Não-Violenta são:

1 . Observação. Observar o que está de fato acontecendo numa situação, o que estamos vendo os outros dizerem ou fazerem que é enriquecedor ou não para nossa vida. Isso deve ser feito sem julgamento ou avaliação. Generalizações são exemplos de observação com julgamento. Por exemplo, quando dizemos “Os brasileiros desrespeitam o isolamento”, estamos concluindo e julgando. Mas quando dizemos “Vi muitas pessoas nas ruas sem máscaras e descumprindo o isolamento”, estamos registrando uma observação.

2 . Sentimento: Identificar como nos sentimos ao observar aquela ação, distinguindo sentimentos de pensamentos. Por exemplo, quando dizemos “ Sinto-me insignificante para as pessoas com quem trabalho”, estou avaliando os outros e não a mim. O que isso me desperta seria o sentimento, por exemplo “ Sinto-me triste ” ou “ Sinto-me desestimulado . ”

3 . Necessidade: Aceitar a responsabilidade, em vez de culpar outras pessoas por nossos sentimentos , ao reconhecermos nossas próprias necessidades, desejos , expectativas , valores ou pensamentos . A expressão da necessidade é: “ Sinto-me assim porque eu … ”. A libertação emocional envolve afirmar claramente o que necessitamos, de uma maneira que deixe óbvio que estamos igualmente empenhados em que as necessidades dos outros sejam satisfeitas.

4 . Pedido. Quando nossas necessidades não estão sendo atendidas , depois de expressarmos o que estamos observando, sentindo e precisando, fazemos então um pedido específico,pedimos que sejam feitas ações que possam satisfazer nossas necessidades. Esse pedido deve ser positivo e concreto. Solicitações não acompanhadas dos sentimentos e necessidades do solicitante podem soar como exigências .

Marshall Rosenberg ressalta:

Evite dizer “ Eu deveria ” ! Em nosso vocabulário , há uma palavra com enorme poder de criar vergonha e culpa . Essa palavra violenta, que é comum usarmos para avaliar a nós mesmos , está tão profundamente arraigada em nossa consciência que muitos de nós teriam problemas para imaginar a vida sem ela . É o verbo dever, usado em frases como em “ Eu deveria saber ” ou “ Eu deveria ter feito aquilo ” . Na maioria das vezes em que usamos esse verbo com nós mesmos, resistimos ao aprendizado , porque “ dever ” implica que não há escolha .

Para substituir o “tenho de fazer” por “escolho fazer”, as seguintes passos são aconselhados:

1 O que você faz em sua vida que você não sente ser prazeroso? Relacione num pedaço de papel todas as coisas que você diz a si mesmo que tem de fazer , qualquer atividade que você deteste mas faz assim mesmo , porque percebe que não tem escolha;

2 Depois de completar a lista , reconheça claramente para si mesmo que você está fazendo essas coisas porque escolheu fazê-las, não porque você tem de fazê-las. Coloque a palavra escolho na frente de cada item que você listou;

3 Depois de ter reconhecido que você escolheu fazer uma atividade específica, entre em contato com a intenção por trás da escolha completando a frase : “ Escolho ______ porque quero ______ ” .

Quando nos conectamos ao desejo profundo da nossa consciência, nossos sentimentos mudam. Conseguimos nos livrar da vitimização, da culpa, da vergonha, do medo, dos sentimentos de rejeição. Para isso precisamos reprocessar nossos pensamentos, adotando hábitos para observar, identificar sentimentos e necessidades e assumirmos responsabilidades por nossas escolhas. A bíblia nos fala sobre consciência equilibrava e transformação por renovação da mente:

Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Pois pela graça que me foi dada digo a todos vocês: ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, pelo contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu. (Romanos 12:2,3)

Precisamos observar nossos padrões de comportamento para enxergamos com consciência quem somos, resgatando nossa identidade, nossas necessidades e nossos sentimentos. Precisamos de um alvo que direcionem nossa caminhada, saber para onde estamos indo, quais valores guiam nossa vida, o que nos faz um ser melhor. É Deus que nos dá esse alvo, que nos guia para a liberdade onde não somos mais dominados pelas circunstâncias ou padrões do mundo, temos responsabilidades e identidade. Ele nos ensina a amÁ-lo, a nos amar e a amar o outro. Ele nos livra da violência contra nós mesmo e contra o outro. Viva a responsável liberdade!

Quanto mais fielmente você escutar a voz dentro de você , melhor escutará o que está acontecendo do lado de fora. (Dag Hammarskjöld)

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Danuza Neiva

Cristã. Graças à luz de Cristo, sou movida para ver luz onde há escuridão, encontrar soluções onde existem desafios.