De quem é a culpa?

Danuza Neiva
4 min readMay 21, 2020

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Estamos sempre em busca de respostas para isso, às vezes nos culpando às vezes encontrando alguém para culpar. De quem é a culpa dessa pandemia? Quem criou esse vírus? De quem é a culpa por essa crise econômica e política? Estamos sempre nos perguntando, culpando, julgando… Nem tudo temos respostas, porque não temos a visão da grande pintura, do grande plano do universo regido por Deus. Não somos donos do tempo, somos mordomos dele. Deus conduz a nossa chegada e diz até quando estaremos aqui.

Ilustração do Undraw

A história de Moisés nos três primeiros capítulos de Êxodo é uma narrativa sobre falha, culpa, medo e libertação. Moisés cometeu um assassinato e isso gerou culpa em sua consciência. Primeiro ele sentiu culpa diante das pessoas, o medo do julgamento e da rejeição social. Isso o deixou cada vez mais prisioneiro do medo, paralisado diante da vida. Quando Deus o chamou, ele se envergonhou e sentiu uma culpa diante do amor de Deus, ele sabia que Deus conhecia tudo que ele tinha feito, ele foi levado à culpa verdadeira, a culpa da consciência que fez ele mergulhar na sua identidade e reconhecer quem ele era. A culpa diante de Deus gerou arrependimento, gerou transformação de mente, resgatou em Moisés a sua identidade, a identidade de um homem que é a imagem de Deus. Isso trouxe vida nova.

Existe um ciclo vicioso na culpa. Cometemos uma falha, essa falha gera a culpa, reprimimos a culpa com medo do julgamento alheio, nos justificamos, ficamos agressivos e revoltados, acusamos, amarguramos, provocamos a ira e a ira provoca outro mal. Esses são gatilhos para vitimização e ansiedade.

O psiquiatra Paul Tournier, em seu livro Culpa e Graça, diz:

Desde o momento em que um homem reconhece os valores da vida, ele se sente necessariamente culpado por traí-los. Todos nós culpamos e julgamos, mas existe uma falsa culpa e uma verdadeira culpa. A falsa culpa nos impede de ousar sermos nós mesmos. É quando temos medo do julgamento, de nos mostrarmos como somos, de manifestarmos nossos gostos, desejos e convicções, de nos desenvolvermos, de nos expandirmos segundo a nossa própria natureza, livremente. Toda inferioridade é sentida como culpa. A verdadeira culpa do homem surge em relação às coisas que Deus lhes reprova no secreto do seu coração. Deus elimina a culpa consciente, mas torna consciente a culpa reprimida. Jesus revela a culpa não para condenar, mas para salvar, porque a graça é dada a quem se humilha, a quem toma consciência da sua culpa. A graça nos liberta do desprezo e do remorso, resgatamos a dignidade…

Quando descobrimos a fé que nos motiva, vivemos a verdadeira liberdade. É esta liberdade que almejamos: a liberdade de agir ou de não agir, de falar ou de calar, de fazer isso e não aquilo, de trabalhar e de repousar, segundo a convicção que Deus nos dá. Ser fiel a si mesmo é ser íntegro em relação a si mesmo em todas as circunstâncias, diante de qualquer um. É ser natural, espontâneo, sem medo de julgamentos dos outros.

Jesus toleta erros, não exige perfeição, apesar dele ser Perfeito. Então porque exigimos perfeição em nós e no outro? O espírito de julgamento desaparece quando tomamos consciência dos nossos próprios erros e reconhecemos nossa fraqueza. Viver é escolher arriscar-se. Podemos decidir agir como vítimas ou mudar nosso próprio rumo. Podemos assumir responsabilidades pela nossa vida, ao invés de criticar o mundo. Quais são as mentiras que carrego sobre mim? Qual são os fardos que carrego? Quais são as culpas que levo que ainda não me libertei? Quais crenças cobram de mim uma perfeição? Ouse confessar a você mesmo e a Deus todos seus medos, suas falhas, tirar suas máscaras. Se liberte das falsas culpas que te esconden do julgamento alheio. Você sempre será julgado. Cedo ou tarde, para cumprir seu destino como Deus o traçou, todo homem deve confrontar o julgamento dos outros,. Os que mais criticam são os que menos criam.

O psicólogo Jordan Peterson, em seu livro 12 regras para a Vida, recomenda a regra “Deixe sua casa em perfeita ordem antes de criticar o mundo”. A orientação dessa regra é assumir a decisão de deixar as culpas e amarguras e caminhar confiante para o futuro. Isso pode aumentar a esperança e diminuir os medos. Considere suas circunstâncias e comece com pouco. Quais as oportunidades que você tem hoje? Você está aproveitando sua carreira e seu emprego, ou está deixando a amargura e o ressentimento te arrastar para baixo? Você está tratando sua família com dignidade e respeito? Seus hábitos te dão saúde e bem-estar? Você assume responsabilidades sobre seu dia? Você disse o que precisava dizer para seus amigos e familiares? Há coisas que você poderia fazer para deixar as coisas ao seu redor melhores? O que pode tornar sua vida mais simples e menos complicada? Comece a parar de fazer o que você já sabe que é errado, mesmo sem saber o porquê. Comece hoje. Pare de dizer o que te machuca e o que machuca o outro. Faça aquilo que te tornará melhor.

Se você não consegue governar sua vida e sua casa, como ousa dizer como governar uma cidade?

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Danuza Neiva

Cristã. Graças à luz de Cristo, sou movida para ver luz onde há escuridão, encontrar soluções onde existem desafios.