Masculinidade em crise

Danuza Neiva
4 min readJul 8, 2020

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Comecei a ser mais sensível sobre a crise da masculinidade ao realizar uma pesquisa de campo em uma comunidade vulnerável de João Pessoa. Das observações e entrevistas, muitas escutas de lares desestruturados, homens feridos e sem referência paterna na vida, filhos de um ciclo de gerações desajustadas.

Hostilização à masculinidade

A cultura tem interferido na masculinidade dos homens e gerado reflexo na desestrutura familiar e social. A direção do politicamente correto tem oprimido a masculinidade nos homens, justificado pela opressão da cultura ocidental. O homem virou o vilão da sociedade, é hostilizado e indicado como culpado pelas injustiças sociais. Essa é uma visão reducionista e de vitimização, que não encara a natureza caída e opressora de toda a humanidade.

Jordar Peterson expõe como a doutrina da teoria construtivista social defende o fato que o mundo seria melhor se os meninos fossem socializados como as meninas. Quem defende essa teoria presume que a agressividade é um comportamento aprendido, que portanto deveria ser repreendido. Os homens deveriam ter comportamentos socialmente positivos, como delicadeza, sensibilidade emocional, cuidado e atenção, apreço pela estética e cooperação.

As diferenças entre homens de mulheres

Essa pressão social deseja que os homens sejam essencialmente femininos. Entretanto, homens e mulheres são diferentes devido fatores biológicos. Os interesses dos homens tendem para coisas, enquanto das mulheres para pessoas. Os homens são mais independentes, agressivos, competitivos, desobedientes e possuem menos compaixão e empatia que as mulheres. Paul Tornier diz que a relação objetiva refere-se à tendência racional do homem; e a relação pessoal, à tendência afetiva da mulher.

Dentro de todos nós existem o masculino e o feminino. Mas na natureza do homem predomina o masculino e na mulher o feminino. Para Jung, a consciência — simbolicamente masculina, mesmo nas mulheres — luta para alcançar a luz. Ela é a ordem. A inconsciência — simbolicamente feminino — representa o caos, marcado pela inconstância e subjetividade.

Consequências da queda

O desiquilíbrio nos comportamentos naturais entre homens e mulheres é decorrente da queda. Quando Adão e Eva pecaram, eles deixaram de cumprir essencialmente os papéis para o qual haviam sido criados. Adão falha com Eva e com o resto da humanidade, ele foi omisso na liderança e no cuidado com Eva, se esquivou da responsabilidade e culpou Eva pela desobediência. Os dois pecaram, mas Adão pecou primeiro por ser omisso na sua liderança. Cada homem depois dele, cada filho de Adão , carrega no coração a dificuldade de exercer liderança em sua família. Enquanto as filhas de Eva tendem a exercer controle e não aceitar a liderança masculina.

Crise da masculinidade

As consequências dos desajustes entre homens e mulheres levam a problemas de desestrutura familiar. O psicólogo William Pollock relata que o divórcio é difícil para os filhos de ambos os sexos, mas é devastador para os do sexo masculino. A falta de referência sobre o significado do que é ser homem é um dos fatores. O sociólogo Peter Karl acredita que em razão de os meninos passarem 80% do tempo com mulheres, eles não sabem agir como homens quando crescem. Quando isso acontece, o relacionamento entre os sexos é diretamente afetado. Os homens se tornam indefesos e cada vez mais se parecem com crianças crescidas. Isso se transforma em um ciclo vicioso de desestrutura familiar.

James Dobson, em seu livro Educando Meninos, apresenta estudos sobre os problemas sociais relacionados aos homens. Eles fazem parte de 90% de programas de tratamento de viciados em drogas e 95% dos jovens que comparecem aos tribunais de delinquência juvenil. Quando comparados com as mulheres, eles têm seis vezes mais chance de se viciarem em drogas e quatro vezes mais de serem diagnosticados como emocionalmente perturbados. Eles correm mais risco de esquizofrenia, autismo, vícios sexuais, alcoolismo e todas as formas de comportamento antissocial e criminal. Têm doze vezes mais probabilidade de assassinar alguém. Cerca de 77% dos casos nos tribunais relativos à delinquência envolvem homens. De acordo com o Centro Nacional para Crianças Desfavorecidas, os meninos sem pais têm duas vezes mais probabilidade de abandonar a escola e de serem presos, e quase quatro vezes a mais probabilidade de precisar de tratamento para problemas emocionais e comportamentais. Crianças em lares sem pais têm quatro vezes mais chance de serem pobres.

Esse cenário de violência e crises envolvendo os homens são entendidos superficialmente pela sociedade e pelos próprios governos, que são seduzidos por soluções desassociadas das causas dos problemas. Isso pode levar a consequências mais danosas. Jordan Peterson diz que quando a docilidade e a inofensividade se tornam as únicas virtudes aceitáveis, então a severidade e a dominância começarão a exercer um fascínio inconsciente. Ele argumenta que se o homem for obrigado a se feminilizar, eles se interessarão cada vez por ideologias políticas severas e fascistas.

O resgate da masculinidade

Os homens precisam resgatar sua essência masculina. Sua natureza exige isso e as mulheres desejam isso, mesmo que não aprove suas atitudes devido ao comportamento social esperado de bons mocinhos. Peterson diz que a agressividade é inata, sustenta o impulso de ser extraordinário, incontrolável, de competir, vencer e se autodefender. Pessoas com insuficiência de agressividade fogem de conflitos, fazem demais pelos outros, são emocionalmente dependentes, não lutam por si mesmo e são naturalmente oprimidas e ressentidas. Há duas razões principais para o ressentimento: ter sido explorado ou a recusa de assumir a responsabilidade e crescer. Portanto, o confronto é sadio, desde que seja utilizado da maneira certa. A agressividade pode ser a força para se posicionar com firmeza, seguindo a sensatez para não ser violento.

Os homens precisam de uma correta identidade, uma missão e um propósito de vida. Deus é o único capaz de resgatar a plenitude masculina. Que possamos, homens e mulheres, resgatarmos nossa identidade em Cristo e sermos cooperadores na restauração desse Reino.

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Danuza Neiva

Cristã. Graças à luz de Cristo, sou movida para ver luz onde há escuridão, encontrar soluções onde existem desafios.