Mulher, da criação à restauração

Danuza Neiva
9 min readJan 26, 2022

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Conhecer a história real das mulheres da bíblia, vê-las em sua plenitude e no plano perfeito de Deus, nos ajuda a analisar percepções equivocadas que carregamos em relação a nós mesmo e à posição da mulher na sociedade.

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A experiência com os pais na infância pode trazer distorções de visões sobre as mulheres e homens na vida adulta. A percepção do pai terreno tende a ser a mesma percepção que temos do Pai espiritual. Como a relação com seus pais influenciou sua vida? Qual papel você assume na família? Quem é Deus para você? Como é seu relacionamento com Deus? Há pessoas que respeitam, se entregaram e temem a Deus, mas não reconhecem Deus como pai, sua vida espiritual tem um limite. Isso leva a pessoa a ter uma relação muitas vezes religiosa com Deus, sem viver a plenitude de intimidade com Ele. Há pessoas que vêm Deus como Pai, mas um pai que tem predileção por outros filhos ou um pai que causa medo pelas suas proibições e punições.

Qual visão você tem dos homens e mulheres da bíblia? Alguns vêm as mulheres do antigo testamento de forma negativa, seres rejeitados por Deus, mulheres sedutoras, responsáveis pela queda masculina. Já no novo testamento, há pessoas que consideram que as mulheres estavam em segundo plano, sem observar sua relevância na vida de Cristo. O que Deus realmente acha das mulheres?

Antigo Testamento

Eva — da construção perfeita à queda

Na criação do mundo, o surgimento da mulher foi um plano perfeito de Deus. Deus viu que não era bom que o homem estivesse só (Gn 2:18), mas deixou Adão concluir essa necessidade (Gn 2:19–20) para só então criar a mulher. Se Deus tivesse criado Adão e Eva ao mesmo tempo, Adão jamais saberia quanto necessitava dela.

Deus criou a mulher para auxiliar e completar o homem (Gn 2:18). A mulher deve ser companheira e ajudar o homem. O termo auxiliadora não a coloca em situação de inferioridade. No antigo testamento esse termo aparece 21 vezes, 2 vezes para falar de mulher, 16 vezes para falar de Deus ou Javé como auxiliador de seu povo e as outras três ocorrências para se referir a ajuda militar.

Deus deu ao homem e à mulher responsabilidades: encher, subjugar e dominar a terra (Gn 1.28), sem discriminar deveres e responsabilidades para cada um. Após a queda, iniciada pela cobiça de poder pela mulher, Deus muda as responsabilidades entre homem e mulher: “Seu desejo será para o seu marido, e ele a dominará” (Gn 3.16). Depois disso a mulher começou a viver tensão no relacionamento com seu marido e a figurar como ser de inferioridade na sociedade.

Satanás tem planos de tentações para a mulher, porque ele sabe que é do ventre da mulher que é dada a vida e que a família cresce.

Sara, companheira fiel

Sara é descrita na bíblia como referência de fé (Hb 11:8–11). Quando Abraão recebeu o chamado para deixar sua terra e seus parentes para ir para Canaã (Gn 12:1–5), Sara seguiu seu marido, foi companheira e submissa à vontade do Senhor. Sara também deu prova de amor e fé quando obedeceu seu marido, se fazendo de sua irmã para que os egípcios não o matassem (Gn 12:11–16), mesmo sofrendo ao encontrar homens que tentavam possuí-la (Gn 20:2–6). Sara foi uma mulher de fé, submissa, companheira, que avançou com seu marido no ministério.

Sara também teve seus momentos de queda, retratados na bíblia no episódio da espera da gravidez. Após a promessa de Deus sobre descendência de Abraão (Gn 12:17), passaram-se 10 anos e Sara ainda não havia engravidado. Ansiosa e duvidando da promessa do Senhor, ela agiu com suas próprias mãos e influenciou seu marido a se relacionar com a serva Hagar para gerar um filho (Gn 16:1–3). A consequência desse pecado foi conflito no casamento, brigas com Hagar e hostilidades entre a sua descendência e a de Hagar (Gn 16:4–12), representando mais uma vez a queda de Eva. Após isso, Sara esperou por mais 15 anos até sua gravidez e tudo ocorreu na época fixada por Deus em sua promessa (Gn 21:1–5).

Quantas são as áreas da nossa vida que, como Sara, desobedecemos a Deus e agimos com nossa própria vontade, abrimos brechas para os conflitos e para o plano de destruição que Satanás tem para a mulher?

Abigail

Abigail, mulher inteligente e bonita, foi casada com Nabal, homem rude e mau (1 Sm 25:3). Diante a dificuldade do marido de lidar com o povo e o insulto provocado em Davi e seus soldados, Abigail agiu sabiamente para evitar a morte de Nabal e de seus homens. Para isso, ela preparou mantimentos para presentear Davi, carregou-os com suas próprias forças, sem avisar a Nabal (1 Sm 25:18–19). Apesar de reconhecer também que o esposo era mau, ela manteve-se fiel a ele até sua morte (1 Sm 25:25, 1 Sm 25:37). Ela livrou seu marido da morte e livrou Davi do arrependimento, creu na promessa do Senhor para o reinado de Davi e o aconselhou a agir conforme a vontade do Senhor (1 Sm 25:29–31). Abigail teve um casamento desestruturado, mas ela evitava o conflito, como aconteceu quando encontrou seu marido bêbado e nada lhe falou até que ele estivesse sóbrio (1 Sm:25:36–37)

Diante situações de conflito, somos pacificadoras como Abigail, ou cedemos às tentações do pecado?

Novo Testamento

Quando Jesus nasceu, as mulheres da época viviam em situações de preconceitos e rejeições sociais:

  • não podiam falar em público com sexo oposto;
  • não podiam assistir cultos ou receber ensinamento da escritura com homens;
  • não podiam ser testemunhas em tribunais, pois não era considerada confiável, a voz e o cabelo eram vistos como sensuais;
  • consideradas sedutoras, causa do pecado sexual;
  • propriedade do pai, transferido para o marido após casamento;
  • os homens que levavam seus estudos a sério eram encorajados a evitar mulheres, porque elas significam problemas e tentações;
  • acreditavam que a vida originava do sêmen e a mulher era apenas um recipiente (apenas no século 19 o óvulo foi descoberto);
  • analfabetas, desvalorizadas e ignoradas.

No século 5 a.C., a filosofia influenciava a cultura da época. Os filósofos da época colocam a mulher em situação de inferioridade. Sócrates (470–399 a.C.) afirmava que ser nascido mulher era um castigo divino. Platão (348/347 a.C.) acreditava que a mulher era uma forma degenerada da perfeição masculina e que os homens que não viviam de maneira correta seriam reencarnados como mulheres. Os romanos e gregos tinham as mulheres como objetos de prazer e fontes de tentação. A sociedade judaica não era muito diferente.

Jesus veio para restaurar o plano original de Deus para a humanidade. Ele veio para quebrar as tradições equivocadas da época que reprimiam e condenavam a mulher. Nas genealogias do Antigo Testamento, as famílias eram rastreadas apenas pelos homens. No entanto, na genealogia de Jesus Cristo, cinco mulheres são relacionadas: Tamar, Raabe, Rute, Bate-Seba, Maria (Mateus 1).

Jesus libertou as mulheres para que proclamassem o evangelho ao mundo e trabalhasse nos ministérios para fazer a obra de Cristo.

Maria

Assim que Adão e Eva pecaram, Deus anunciou que o descendente de uma mulher esmagaria a cabeça da serpente (Satanás) (Gn 3.15). O plano de Deus foi fazer que o Salvador do mundo viesse na mais pura humanidade e fosse gerado no ventre de uma mulher. Maria foi escolhida pela graça (Lc 1:28), não por mérito, mas havia um plano de restauração de Deus para ela ter sido escolhida. Maria era uma moça judia simples, solteira, virgem, que questionava ao anjo como poderia estar grávida naquele contexto (Lc 1:34). Ela sabia das dificuldades de ser mãe naquela sociedade da época, onde a mulher grávida e solteira poderia ser apedrejada até a morte, mas não teve dúvida do seu chamado e respondeu ao anjo: “Sou serva do Senhor; que aconteça comigo conforme a sua vontade” (Lc 1.38). Maria ficou de coração grato pela misericórdia do Senhor, que se atentou para sua humildade e a colocou em situação de bem-aventurada (Lc 1.46–55). Ela reconheceu o tratamento de Deus para a situação de rejeição da mulher na sociedade. Entretanto isso não foi uma vaidade por ter sido mãe de Jesus. Jesus alertou o povo para não exaltá-la, mas apenas reconhecer que ela foi feliz por ouvir a palavra do Senhor (Lc 11.27–28)

Maria acompanhou Jesus do seu nascimento à sua morte (Jo 19:25), não deve ter sido fácil ela ver seu próprio filho morrendo crucificado, mas ela foi mulher de fé e acreditava nos planos de Deus para salvação.

Após a ressurreição de Cristo, Maria continuou desafiando a cultura da época, ao se reunir com homens para orar (At.1:14). Ela estava entre os discípulos, ela foi a primeira discípula, primeira pessoa a crer em Jesus e o seguir.

Maria Madalena

Maria Madalena foi uma seguidora destemida de Jesus. Sua situação antes de conhecer a Cristo era de uma grande rejeição social, ela era possuída por demônios (Lc 8.1–2), considerada impura. Quando Jesus a libertou ela passou a ser sua seguidora e a acompanhar os 12 discípulos ( Lc 8:1–2). Junto com outras mulheres, ela os ajudavam a sustentá-los com os seus bens (Lc 8.3).

Maria Madalena estava ao lado de Jesus quando ele foi crucificado (Jo 19:25) e quando foi ressuscitado (Mc:16:1–7). Junto com Salomé e Maria, mãe de Thiago, foram as primeiras pessoas a receberem a notícia que Jesus foi crucificado. Maria Madalena foi também a primeira pessoa a falar com Jesus após a ressurreição (Jo 20:16–18). Não há relato na bíblia que mostre que ela duvidou, pelo contrário, ela creu, se alegrou e foi espalhar a boa nova. (Mt:28.8, Jo 20.18).

Maria Madalena foi libertada espiritualmente ao ter os demônios expulsos e socialmente ao ser colocada como parte integrante do grupo que andou com Cristo. Ela foi colocada como testemunha da ressurreição de Cristo numa sociedade em que não se dava confiança ao que a mulher falava.


Mulher de hemorragia crônica

A mulher que sofreu a hemorragia crônica é um exemplo de fé na cura e milagre de Jesus Cristo. Ela sofria de hemorragia há 12 anos, já tinha gastado todos os seus recursos com médicos, mas nenhum conseguiu curá-la (Mc 5:25–26). Quando ouvir falar de Jesus, ela enfrentou a multidão para chegar perto dele e tocar no seu manto, crendo que assim seria curada. Naquela época, uma mulher no período menstrual era considerada impura, imagine ela que sofria de hemorragia há tanto tempo. Mas ela não temeu a multidão e foi na fé ao encontro de Jesus. Imediatamente, ao tocar no manto, parou sua hemorragia e ela foi curada (Mc 5:27–28). Jesus sabia quem a tocou e o milagre que tinha feito, mas ele perguntou no meio da multidão: “Quem tocou em meu manto?”. Jesus levou a mulher a testemunhar o seu milagre perante a multidão e disse que a fé dela a curou, ela foi colocada como testemunha viva do Senhor (Mc 5:31–34) e deixou sua posição de rejeição na sociedade e se livrou de todo sofrimento.

A história da mulher que sofria hemorragia acontece em paralelo com a da filha de Jairo, que era uma adolescente de 12 anos que sofria de doença aguda. A bíblia descreve Jairo se dirigindo a Jesus para fazer milagre em sua filha, mas Jesus opera milagre primeiro na serva hemorrágica, que Ele julgou ser a prioridade de cura para depois se dirigir a filha de Jairo. Jairo era um homem importante na comunidade judaica, mas entendeu com a doença da sua filha que sua posição não valia nada. Jesus o fez vê que não era sua posição que o salvava, mas sim a fé no Cristo salvador. (Mc 5.22–40)

A mulher hemorrágica, apesar do desengano da ciência, teve sede pela sua cura, não desistiu da sua vida, lutou e enfrentou a sociedade e creu no Senhor do impossível.

Assim como elas, o novo testamento mostra outros exemplos de mulheres transformadas, com dignidade restaurada, leais e servas de Deus. Deus tem planos de curas e transformações para nossa vida, Ele quer nos trazer para servir ao Reino e expandir o Seu ministério, Ele quer trabalhar a nossa fé e nos ver como mulheres sábias em seus diferentes papéis conforme a Sua vontade.

NOTA: Texto publicado em 2016 , migrado daplataforma blogspot.com

Referências:

[1] Bíblia Sagrada — Nova Versão Internacional — NVI
[2] Jesus e as Mulheres: o que Ele pensa de nós, Sharon Jaynes, Ed Mundo Cristão, 2016.

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Danuza Neiva

Cristã. Graças à luz de Cristo, sou movida para ver luz onde há escuridão, encontrar soluções onde existem desafios.